Taxa de juros
Por: José Cursino Raposo Moreira. Economista. moreiracursino@gmail.com.
O fator mais determinante para o crescimento das economias dos países é o investimento. Este consiste no dispêndio da renda pelo setor público e pelo privado em itens que venham aumentar e/ou repor a capacidade produtiva do sistema econômico. Materialmente, eles se concretizam nas fábricas, nas fazendas, nas estradas, portos, aeroportos, shopping centers, hospitais, que vão sendo implantados, ampliados, reformados ao longo do tempo e que, mediante a sua operação sob a organização e gestão de seus proprietários e trabalhadores, geram o fluxo de bens e serviços que vão atender as mais diversas necessidades dos membros da sociedade.
Durante o processo de investimento, há toda uma “ativação” de circuitos econômicos, desde a compra das máquinas e equipamentos, aquisição de insumos até a geração de um fluxo de pagamentos de salários, aluguéis de imóveis e distribuição de lucros e pagamentos de encargos financeiros no caso de os que investem recorrerem a operações de empréstimos e financiamentos. É claro então que, quanto maiores forem os investimentos durante os ciclos econômicos, maior será este processo de remunerações, que permitirão aos seus recebedores a aquisição dos bens de que necessitam, assim ativando outros setores da economia, que ativarão outros e assim sucessivamente. A este processo os economistas dão o nome de “círculo virtuoso”.
Do ponto de vista privado, o principal móvel do investidor em aplicar recursos em alguma atividade é a perspectiva de lucro por ele vislumbrada na aplicação de seus recursos nela. Ao fazer essa “conta”, o investidor leva em consideração se ele poderia ganhar mais fazendo o investimento em outra atividade que não aquela ou mesmo destinando estes recursos para algum tipo de poupança, na expectativa de maior ganho futuro no mercado financeiro, no lugar de destiná-lo a alguma atividade produtiva no presente.
Os investimentos são “balizados” na economia pelas taxas de juros, isto é a remuneração esperada pelo uso do capital. Tal como acontece com as demais mercadorias, haverá uma relação inversa entre o preço do capital e a sua procura. Quanto mais elevadas estas forem, menor será a sua demanda e vice-versa. Já os poupadores, estarão mais dispostos a adiarem seu consumo, quanto mais elevadas estiverem as taxas de juros. Já quanto menores forem os investimentos, menor será a taxa de crescimento da economia, provocando um processo inverso ao do círculo virtuoso. Neste caso, a produção entra em estagnação, o fluxo de remunerações vai minguando e as relações entre os setores da economia perdem dinâmica e a estagnação do primeiro ciclo vai se ampliando, configurando agora um “círculo vicioso”, caracterizado por queda da produção de bens e serviços e de remunerações aos fatores produtivos.
Eis a razão da preocupação que tomou conta da economia brasileira nesta semana, ao saber-se que as taxas de juros que o governo está pagando por seus títulos de dívida chagaram ao mais alto patamar desde de 2016, às vésperas da queda de Dilma da Presidência da República. Para títulos com 10 anos de prazo as taxas estão em 13,21% a.a., enquanto as para títulos de 40 anos chegaram a 6,17% a.a.
Desde essa época, o país passou por uma severa recessão que chegou até o ano de 2019, quando se esboçou uma leve reação, logo derrubada pela pandemia de Covid 19. Sendo assim, é preocupante o cenário para os próximos anos, sobretudo depois da aprovação da chamada PEC das bondades eleitorais, ao custo de R$41,2 bilhões, já que, “no final da linha”, provocará novas elevações dos juros, significando menos investimentos e mais dívida pública.