PONTO FINAL
*Antônio Augusto Ribeiro Brandão
“Quem passou pela vida em brancas nuvens e em plácido repouso adormeceu, não foi homem, foi espectro de homem, só passou pela vida, não viveu.” – Francisco Otaviano
É minha intenção não escrever mais para jornais, que, diga-se de passagem, não tem nenhuma culpa nisso Por isso, como despedida, vai este artigo ‘sincopado’, desde remotas lembranças até as alegrias e decepções ao longo da vida. Neste texto lembro alguns registros dignos de serem mencionados.
Considerações a propósito do que é listado como Plano do Governo, concluo que a tarefa não será fácil e enfrentará dificuldades. O Maranhão continua sendo um exportador de capital e São Luís, prestadora de serviços, e a maioria dos Municípios não se sustenta.
O novo governo federal encontrará o Brasil com orçamento ‘estourado’, deficitário em termos primários, inflação, de preços e de custos, dívida interna crescente e de curto prazo. Como enfrentar tudo isso e ainda socorrer os Estados? O nosso Maranhão, há anos, mantém-se monitorado pelo Tesouro Nacional, sujeito a uma série de restrições.
Uma árdua tarefa para os eleitos, começando pelo tamanho da máquina administrativa e ‘benesses’ a outros poderes: FAC, Teto de Gastos, Orçamento Secreto serão responsáveis pelo ‘estouro’ elevando a taxa de juros, a inflação, aumentando a dívida pública, cada vez mais de curto prazo.
Nada mais será como antes, e aí vem uma saudade incontida e inevitável. Vocês lembram da sensação de simplesmente ‘pegar na mão’ de uma garota primeira na busca do amor? Lembram dos nascentes bailes da vida, de dançar de rosto ‘colado’, um progresso conquistado a dois?
Lembram da ‘Sessão das Moças’, no Rex, em Caxias, e das vesperais, no Roxy, em São Luís, nas belas tardes de domingo; lembram do progresso nos estudos e da confraternização com os colegas? Lembram que tiveram de partir para outras plagas, para trabalhar, estudar e tentar consolidar a vida?
Lembro de tudo, do começo, meio e fim, que está próximo, mas às vezes penso que os outros não pensam assim; sinto saudades de tudo e de todos, da família, dos amigos, do tempo em que tudo era promissor. Sinto saudades da Conceição, minha amiga, namorada, noiva, esposa e amiga durante mais de 60 anos, arrebatada que fui naquela noite de 1953. Um olhar diferente, um piscar de olhos, um sorriso, linguagem suficiente à harmonia e à paz entre esses corações enamorados.
Nada mais será como antes e não digo isto em tom pessimista, mas realista: mudaram muito os usos e costumes, valores e crença colocando em risco a estrutura familiar, as Instituições e a Igreja.
Vieram todos para a Ceia de Natal, aqui em casa, demonstrando nossa união, assim como, há dez anos, ainda com a presença da Conceição: Marcos, Tatiana, Ciro, Camila; Márcio e Karla; FábIo, Mônica, Hugo e Ingrid; Brandão, Fernanda e Davi; Fátima e Lucas.
Relembrando, muito a propósito do momento político que estamos vivendo, o acontecido há 58 anos! Rio de Janeiro, 31 de março de 1964: de volta para casa, em Laranjeiras, ‘a bordo’ da Rural do amigo Pedro José Colaço Carvalheira, pernambucano de boa cepa e especialista na venda de fertilizantes, seguimos o mesmo trajeto diário. Já na rua das Laranjeiras, à altura do Parque Guinle, a rua já estava ‘atravessada’ pelos tanques do exército, impedindo nosso prosseguimento. Era o sinal de que a ‘redentora’ estava instalada.
Tivemos que alterar nosso trajeto, pelas ruas marginais à esquerda, praça de São Salvador e adjacências. Nos dias que se seguiram, com tudo fechado, fomos salvos pelo senhor Marques, um português de ‘secos e molhados’, que manteve seu armazém ‘à meia-porta’, para atender seus fregueses. Marcos já estava conosco desde 12/61 e Conceição, grávida de Márcio, que chegaria em maio/64.
Meus ‘amores perdidos’ não são humanos, dos quais não posso me queixar. Outra coisa: tudo que está acontecendo com os usos e costumes, valores e crenças, contra o que venho pessoalmente venho reagindo, tem tido a complacência da chamada sociedade organizada.
Economista. Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.