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“Polêmicas e polêmicas”, por Lino Raposo Moreira

Brazil's President Jair Bolsonaro attends an Air Force ceremony in Brasilia, Brazil January 4, 2019. REUTERS/Adriano Machado

Artigo originalmente publicado no jornal O Estado do Maranhão

As polêmicas políticas correm à solta e continuarão assim por 3 anos e meio, pelo menos. Quase todas foram disparadas pelo presidente Bolsonaro, que parece por elas movido. São elas tão desimportantes quanto possam ser na vida do país, embora não o sejam para os frequentadores de bar em fins de semana, como o provam as conversas sobre a própria controvérsia do dia, bem como sobre futebol, mulheres e cerveja nesses ambientes.

Essa turma sente um bate-papo desse tipo como algo muito importante, mas não deve ser dessa forma com um presidente da República Este só deve encarar tais reuniões dessa maneira no âmbito privado.

A última polêmica, em seguida àquela acerca da indicação de um filho dele ao cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, é sobre palavras de Bolsonaro a respeito dos nordestinos, logo antes de entrevista dele a correspondentes de jornais estrangeiros no Brasil.

Foram (fomos) chamados de paraíbas, segundo a maioria das interpretações do áudio de som ruim de sua fala com o ministro da Casa Civil, sem saberem ambos, imagina-se, da gravação em andamento. A palavra tem forte conotação pejorativa no Rio de Janeiro. Em São Paulo é usado termo equivalente, baiano. Dizer, como já ouvi, que, por estar dicionarizada, não haveria nada de ofensivo no seu uso, é acreditar em poderes miraculosos de dicionários. Uma vez dicionarizadas, palavras dessa natureza deixariam de ser afrontosas, de onde se poderia argumentar em favor da dicionarização de todas elas, a fim de se acabar com qualquer tipo de discriminação. A palavra trambiqueiro (golpista, ver HOUAISS), dicionarizada, como já o é, seria tratamento carinhoso. Antes de ter entrado no pai dos burros, seria insulto.

Vamos admitir que não houve a intenção de ofender ninguém de parte do presidente. Foi então a boca torta do uso frequente do cachimbo antinordestino. O presidente é do tipo de pessoa incapaz de parar por meio segundo sequer com o fim de refletir, antes de verbalizar a primeira bobagem ansiosa, mas prisioneira por segundos dentro de sua cabeça, por ver a luz do dia. Atira em todas as direções e não foca em profundidade em nenhuma. Os assuntos importantes não recebem sua necessária atenção. Na tramitação da Reforma da Previdência, não vi seu esforço pela sua aprovação, a não ser quando se empenhou em favor de condições previdenciárias especiais para grupos de policiais. Contribuiu dessa forma com o enfraquecimento da reforma. O trem fora dos trilhos desses combates verbais não parou no Nordeste, pois projetou-se em seguida pelo infinito espaço celestino.

O presidente classificou como mentirosos os dados produzidos por satélite e compilados e analisados pelo INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, sobre desmatamento na Amazônia, sem apresentar qualquer dado alternativo em suporte de sua afirmação. O instituto tem reconhecimento internacional pela excelência de seu trabalho e carrega uma reputação sem mancha. Não é papel do presidente fazer questionamentos científicos. Ele tem assessores que podem fazê-lo com muita competência. Ou então pode pedir os dados a esses auxiliares antes de dizer tolice. Bolsonaro, em quem votarei novamente, caso a única alternativa a ele na próxima eleição seja o PT, hipótese difícil de se tornar fato, vai desperdiçando seu capital político tolamente, em vez de olhar para coisas fundamentais a nosso futuro. Tomara que ele se dê conta disso.

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Lino Raposo Moreira é economista, membro da Academia Maranhense de Letras e PhD

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