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PERMANECEM OS DESAFIOS À TEORIA ECONÔMICA

PERMANECEM OS DESAFIOS À TEORIA ECONÔMICA

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Agradeço penhoradamente o apoio que tenho recebido do CORECON, da UFMA e das Academias de Letras às quais pertenço, mas ainda não consegui, concretamente, que esse apoio se transformasse em ações indispensáveis ao enfrentamento desses desafios.

A Palestra que proferi, por ocasião do lançamento do meu livro ‘Economia – Textos Selecionados’, na AMEI, reiterou a tese: a teoria econômica estaria necessitando de novas formulações ou os modelos econométricos atualmente existentes sendo mal interpretados? Essas indagações, decorrido algum tempo, estão mais atuais do que nunca.

A história é pródiga ao registrar antecedentes fundamentais à compreensão do que significou – e ainda significa -, o chamado “quantitative easing”, a grande expansão da liquidez ou afrouxamento monetário ocorrido nos Estados Unidos, a partir de 2008, liderado pelo banco central americano, o Federal Reserve – FED. Vejamos.

A Grande Depressão de 1929 aconteceu com queda na produção industrial, desemprego, falência de grandes Bancos e empresas, e determinou a quebra da Bolsa de Valores de Nova York – NYSE.

Meu interesse maior vem desde esse ‘crash’, sendo então presidentes dos Estados Unidos e do Banco Central americano – FED, Herbert Hoover e Eugene Meyer, respectivamente; eles erraram na avaliação da crise e acreditaram que o mercado resolveria o problema da queda na cotação das ações, na NYSE.

O presidente Franklin Delano Roosevelt, ao assumir o governo, demitiu o presidente do FED e, além de simples auxílios financeiros aos menos favorecidos, controlou a produção agrícola e investiu em infraestrutura, ferrovias, rodovias, portos, proporcionando emprego e renda.

Na Faculdade, entre 1956-1959, estudei no livro Princípios de Economia Monetária, de Eugênio Gudin (um liberal presente em Bretton Woods, em 1944, com John Maynard Keynes). No governo JK, até 1960, esperanças foram nutridas e vividas pelos economistas e, afinal, desfeitas.

Fui professor da atual UEMA, desde 1968, na então Escola de Administração Pública do Estado do Maranhão, ensinando Teoria Econômica e na UFMA, entre 1978 até 1997, Economia Monetária.

Atuei no sistema financeiro estadual, entre 1979 e 1987; em 1980, visitei Nova York, nos Estados Unidos, para testemunhar experiências do mercado financeiro americano e sentir de perto os efeitos do ‘crash’ de 29.

Mantive, ao longo do tempo, interesse na economia monetária refletido em Livros, lançados no Brasil e no exterior, e em um sem número de artigos escritos e publicados na imprensa local, a partir de 2007 até 2015, que constam do meu terceiro livro, bilíngue português/inglês, Desafios à teoria econômica/Challenges to the economic theory (*) e entre 2016 e 2019, uma coletânea de artigos no recente Livro referido.

A prática contrariando a teoria, é o que está acontecendo: a política monetária heterodoxa praticada pelo FED provocou efeitos colaterais principalmente na Europa, em países da zona do euro, política também adotada pelo Banco Central Europeu – BCE.

Adam Smith (1723-1790), clássico, escocês, século XVIII, em sua obra máxima A Riqueza das Nações é a favor do liberalismo econômico, crescimento e divisão do trabalho, e contra o mercantilismo; David Ricardo (1779-1823), clássico, britânico, século XVIII, em sua obra Princípios de Política Econômica é contra o protecionismo, adepto do comércio entre as nações e autor da teoria do valor-trabalho; Alfred Marshall (1842-1924), britânico, século XVIII, fez a síntese neoclássica, autor da teoria do comportamento do consumidor, utilidade total e marginal.

John Maynard Keynes (1883-1946), autor da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, pioneiro da macroeconomia e políticas econômicas; Bem Bernanke (1963), americano, então presidente do FED, inspirado no que aprendeu de 1929, evitou um novo ‘crash’, mas gerando efeitos colaterais de alavancagem nos balanços dos bancos centrais, problemas no sistema de regulação bancária e endividamento de empresas e governos.

O BCE, então presidido pela dirigente anterior do FED, pretendeu manter a política de auxílio à liquidez, mas sujeita às restrições de origem pela não união fiscal entre os países da zona do euro, além da iminência, na época, de recessão na Alemanha.

Em condições normais quanto maior os meios de pagamento nas suas diversas versões, sem contrapartida de produto, maior deveria ser a inflação pela pressão sobre o sistema de preços; a Teoria Quantitativa da Moeda e a Base Monetária tecem consagrados princípios a respeito e tentam explicar o que de fato ocorreu.

Os dirigentes do FED, em 1929, acharam que o mercado resolveria o ‘crash’ e deixaram ‘quebrar’; em 2007, de forma bem diferente, injetaram liquidez e evitaram o pior, salvando principalmente o sistema financeiro, bancos considerados grandes demais para quebrar!

Meu livro “Desafios/Challenges” continua atual depois de sete anos. Os cenários traçados à economia mundial na atualidade, estão comprovados pelas alterações nos mercados financeiros mundiais, com o dólar em alta e as bolsas, em baixa.

Está, portanto, caracterizada a recessão que afeta esses mercados, motivada pela forte expansão da liquidez, a partir de 2008, pelo FED e seus congênere; essa ‘financeirização’, sem correspondência de produto pela economia real, favoreceu especialmente os grandes bancos de investimento, considerados ‘grandes demais para quebrar’, empresas e governos já endividados, refinanciando essa dívida e enfrentando as dificuldades de resgate.

*Economista. Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

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Antônio Augusto Ribeiro Brandão

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