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Os reveses de março  

Os reveses de março                

 Por:  José Cursino Raposo Moreira.
Economista.

O que já vinha sendo ruim, ficou pior ainda em março, no campo da economia brasileira. A ponto de o que foi noticiado, acerca do que aconteceu no período, lembrar versos da música ÁGUAS DE MARÇO, de Tom Jobim, em que ele fala de um ambiente de “pau, pedra, água e lama”, impedindo o caminho até um sítio seu na região serrana do Rio de Janeiro, sob “as águas de março, fechando o verão”. O ponto principal desse cenário foi, sem dúvida, a divulgação do IPCA do mês, de 1,62%, a maior taxa para esta data nos últimos 28 anos.

Com o IPCA mensal nessa dimensão, a inflação em doze meses também escalou mais alguns degraus e chegou a 11,30%, número superior ao da mesma medida com o IPCA de fevereiro, que já quebrara a barreira dos 10% anuais. Ao mesmo tempo, os observadores da Economia começaram a prospectar o que pode vir para a frente e iniciaram  formulações de previsões em que o IPCA de 12 meses apurado com a medida de abril pode chegar a 12%, nova subida do indicador. Ainda no campo das previsões, há outras notícias negativas. Com tal comportamento dos preços e com a conjuntura de guerra no leste europeu e eleições no Brasil, há o risco de a inflação de 2022 fechar acima de 8%, portanto, acima da previsão do Banco Central de 7,8%. E como há “pau, pedra, água e lama no meio do caminho”, já se vislumbra o risco de não ser atingida a meta prevista para a inflação de 2023. Em março, projetava-se que o índice do próximo ano pode ser de 3,80%, enquanto o centro da meta para o mesmo período está previsto em 3,25%.  Ou seja: são três anos consecutivos de descumprimento da meta de inflação, significando fracasso combinado das políticas monetária, em primeiro lugar, e da fiscal, subsidiariamente, mas nem por isso menos grave.

Considerando-se o modelo de política econômica em vigor, as primeiras reações dos agentes do mercado e das autoridades governamentais diante deste cenário foram no sentido de prospectar o que acontecerá com a taxa Selic, principal instrumento de combate à inflação.

Formara-se um consenso que com mais um aumento de 1pp na reunião do COPOM, em maio deste ano, o presente ciclo de aumentos, iniciado em março de 2021, se encerraria, com a Selic em 12,75%. Depois dos dados de março, contudo, o cenário modificou-se inteiramente e, tanto entre autoridades governamentais quanto entre agentes de mercado, a expectativa é de que em junho e agosto ainda haverá aumentos de juros, que poderiam chegar naquele mês em 14% aa. Tudo no sentido de assegurar-se o atingimento da meta em 2023, que estaria ameaçada no presente cenário.

Diante destas perspectivas, deseja-se que as próximas estações sejam mais amenas para a política econômica que o verão de 2022, permitindo que no de 2023 se possam recordar, desta vez, em referência a problemas econômicos do Brasil, dos versos de Fernando Lobo, na canção CHUVAS DE VERÃO, em que ele fala de “coisas de momento, … chuvas de verão”.

moreiracursino@gmail.com.

Palavras-chave :

2022, Economia, inflação, ipca, José Cursino Raposo Moreira., Macroeconomia, março

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