ARTIGOS

Crônica: Envelhecer

ENVELHECER

Por: Antônio Augusto Ribeiro Brandão¹

Artigo da economista e escritora Eliana Cardoso, há tempos, inspirou este texto.

Fiquei sabendo, por exemplo, que o conceito de velhice depende do sentido conferido à vida; que já superei os anos estimados a viver, hoje, em torno de 82 em países da Europa; que o passar do tempo modifica a relação do indivíduo com a sociedade na qual está inserido.

Quando eu nasci, primogênito entre dez irmãos, a expectativa de vida era bem menor dadas principalmente as condições de saúde, pois a medicina ainda não havia sequer descoberto a penicilina; as famílias, como a minha, cuidavam de suas crianças na base de remédios caseiros e fortificantes existentes nas farmácias e drogarias, inclusive com séries anuais de injeções de cálcio e vitaminas.

Foi assim que eu, desafiando a lógica, fui vencendo as crises de asma acometidas desde a infância, passando pela adolescência e, por incrível que possa parecer, menos agora, na velhice; lembro dos tratamentos evoluindo ao longo do tempo e da superação dos riscos enfrentados em certas oportunidades, das injeções de Adrenalina, pois podia ter morrido com o coração acelerado e quase ‘saindo pela boca’!

Eliana Cardoso cita alguns autores famosos no trato da questão do envelhecimento e de como as lembranças do passado podem definir comportamentos: casais idosos solitários que imaginam um tempo que não volta mais (Eugène Ionesco, 1909-1994), mas a minha solidão é de viúvo; evocando amores passados (Samuel Beckett, 1906-1989); uma visão mais otimista de Cícero (106 43 a.C), dirigida aos senadores de Roma, que a idade, diferente de desequilibrar, aumenta suas capacidades.

Ela cita também o filósofo Ralph Waldo Emerson (1803-1882), que o crítico Harold Bloom incluiu em seu livro “O Cânone americano”, gabando os méritos e a serenidade da última idade; ele diz que “o velho é feliz primeiro porque escapou de perigos múltiplos e já não tem o que temer, e com a vida atrás de si, ela lhe pertence e ninguém pode roubá-la”.

Penso que é isso mesmo: plantei várias árvores, escrevi cinco Livros, casei com a Conceição, sou pai de quatro filhos e avô de cinco netos; trabalhei, estudei e passei boa parte da vida ensinando o que aprendi, nas Universidades Estadual e Federal do Maranhão. Foi fácil? Não, contudo continua valendo a pena.

Sabe-se sobre o escritor que mais exaltou a velhice, Victor Hugo (1802-1885), relembrado pelo incêndio da Notre-Dame de Paris, que menionava “o contraste romântico entre um corpo enfraquecido e um coração indomável”; Michel de Montaigne (1533-1592), “recusa tanto a zombaria da velhice quanto sua exaltação, que para aqueles que empregam bem o tempo, a experiência e a ciência crescem com a vida, mas a vivacidade, a prontidão, a firmeza e outras características essenciais se enfraquecem ou desaparecem”.

Corpo enfraquecido, é verdade, bem como ‘outras características essenciais’, todavia a experiência cresce à medida em que se envelhece. Há exemplos brasileiros exaltados por Clarice Lispector (1920-1977); Simone de Beauvoir (1908-1986) diz que “mais vale viver uma velhice ativa, mas que essa possibilidade, contudo, pertence aos privilegiados”.

Agora, um pouco sobre a motivação maior do artigo de Eliana Cardoso, ‘a vida no longo prazo’ face à nunca acabada Reforma da Previdência. Ela diz: a fonte mais importante de rendimentos dos idosos são as aposentadorias e pensões; que a renda média dos idosos economicamente ativos é mais do dobro da renda média da população entre 14 e 64 anos; entretanto, apenas uma parcela pequena da população acima de 65 anos se mantém ativa.

E mais: “Os idosos ativos com mais de 65 anos representam apenas 15% dessa faixa da população, e entre as pessoas acima de 75 anos, somente 5,5%; (…) apenas uma minoria privilegiada consegue se manter ativa e independente na velhice”.

Trabalhei, oficialmente, até 2020, desde 1955: no Rio de Janeiro, onde fiquei por dez anos e formei-me em Economia; em São Luís, desde 1965, quando participei da Reforma Administrativa do Estado enfatizando a criação das primeiras escolas de nível superior, no caso a Escola de Administração Pública, da qual fui professor fundador e titular; e, por pouco tempo, em 1987, em Brasília, no Ministério da Ciência e Tecnologia.

Por todas essas verdades, dou graças a Deus!

¹Economista. Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

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Antônio Augusto Ribeiro Brandão

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