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CHÁ E SIMPATIA

 

CHÁ E SIMPATIA

 *Antônio Augusto Ribeiro Brandão

 “A leitura faz do homem um ser completo, a conversa faz dele um ser preparado e a escrita o torna preciso.” Francis Bacon (1561-1626), filósofo, escritor e ensaísta inglês.

 

Outro dia e depois de muito tempo restabeleci contato com um amigo de longas datas. Ao saber que eu, agora, sou membro de Academias de Letras, ele foi logo dizendo: “A Academia Brasileira de Letras – ABL o espera para o ‘chá dos imortais.’ Quer dizer: está na gênese do processo e na cabeça das pessoas o desejo normal de progredir na escala acadêmica e poder desfrutar das amenidades que o galardão encerra.

 Nada mais justo a confraternização permanente entre os confrades e confreiras, uma prova de ‘liberdade, igualdade e fraternidade’. Deveria ser assim, mas nem sempre é. Como membro da Academia Caxiense de Letras – ACL, Academia Ludovicense de Letras – ALL e Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política – AMCJSP, frequento também a Academia Maranhense de Letras – AML e, sempre, sou bem recebido pelos amigos de antes e pelos feitos depois, mas “santo de casa não faz milagres.”  

 Sou um defensor das tradições e dos rituais acadêmicos. O Estatuto da ABL, que foi modelo para outras academias, diz: “A Academia tem por fim “[…] a cultura da língua nacional, sendo composta por quarenta membros efetivos e perpétuos, conhecidos como ‘imortais’, escolhidos entre os cidadãos brasileiros que tenham publicado obras de reconhecido mérito ou livros de valor literário […]”.

 O cargo de ‘imortal’ é vitalício; a sucessão dá-se apenas por morte do ocupante da Cadeira, sempre elogiado, exceção para os que migram de categoria tornando-se membros Honorários, conforme na ACL, ALL e AMCJSP.

 A Academia Brasileira foi inspirada na Academia Francesa, fundada por Armand Jean du Plessis (1585-1642), o Cardeal de Richelieu, que, em 1635, sob o reinado de Luís XIII de França; fechada durante a Revolução, em 1793, foi restabelecida por Napoleão Bonaparte, em 1803.

 Para demonstrar que ‘a Academia não faz política, mas é política’, em Paris daquela época (décadas de 1620 e 1630), vários grupos se reuniam para debates literários; o Cardeal Richelieu acabou por adotar um desses grupos e fazê-lo embrião da Académie Française.

 O começo das Academias, que se disseminaram pelo mundo todo, sempre, foi assim. Mais tarde os procedimentos foram ficando democráticos e transparentes. Hoje, quem se achar enquadrado nas exigências acadêmicas pode ser candidato: tem que proclamar essa intenção e concorrer em igualdade de condições com os outros pretendentes.

 Modernamente tudo ainda é muito solene e burocrático. Não esqueço o ritual de posse. O eleito adentra o salão nobre da Academia acompanhado por membros mais antigos, assina o Termo, veste o fardão e recebe o ‘colar’ com a medalha; em seguida é saudado por um dos Confrades e pronuncia o discurso normalmente evocando seu Patrono e/ou quem sucede. Uma grande emoção toma conta de todos.

 Mas há outros momentos dignos de recordar no decurso da vida acadêmica uns igualmente solenes e outros, nem tanto. Um desses momentos solenes foi a fundação da Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA, por inspiração maior do confrade Sálvio Dino e apoio incondicional da AML.

 A Federação foi conduzida por diretoria pioneira encabeçada pelo incansável presidente Álvaro Urubatan Melo, da Academia Sambentuense de Letras; depois de intenso processo burocrático para tornar-se pessoa jurídica, a FALMA foi reconhecida como de utilidade pública e empenhou-se na filiação das Academias disseminadas pelo Estado, o que vem conseguindo.

 Há, entretanto, momentos muito sérios que, no meu entendimento, as Academias – mesmo ainda não filiadas à Federação – deveriam participar no equacionamento de possíveis problemas e encaminhamento de soluções, pois dizem respeito à comunidade na qual estão inseridas. É quando cada uma delas ‘não faz política, mas é política’. Reunindo em seus quadros pessoas representativas da sociedade, naturais guardiãs da cultura, dos valores e crenças dessa sociedade, seria um desperdício uma visão restrita de uma competência essencialmente institucional.

 É o caso, por exemplo, do que vem acontecendo com o patrimônio histórico de Caxias, em paulatina e acelerada destruição.  A ‘Casa de Coelho Neto’ vai precisar ser fortificada e apoiada pelas demais congêneres na tomada de uma posição a respeito desse grave problema.

 

Economista. Membro Honorário da ACL, ALL, e AMCJSP.

 

Palavras-chave :

Carlos Brandão, Crônicas

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