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As eleições e a Economia.                    

As eleições e a Economia.                  

 

 José Cursino Raposo Moreira – Economista –  moreiracursino@gmail.com.

Nas eleições americanas de 1992, James Carvile, o marqueteiro do Democrata Bill Clinton que disputava a presidência contra o então titular do cargo George Bush, criou o mantra “é a economia estúpido”, para lembrar o quanto o tema econômico era relevante para a definição das eleições, podendo levar à vitória quem soubesse melhor utilizá-lo. No Brasil de 2022, contudo, parece que pelo menos neste ponto Lula e Bolsonaro chegaram a um acordo tácito: ambos negaram-se a tratar minimamente da economia na disputa que se encerra neste domingo.

E não faltariam motivos estruturais ou conjunturais para os candidatos centrarem-se fortemente na pauta econômica para dizerem à sociedade como vão abordar a complexa pauta da matéria que espera por solução. Afinal, apenas agora vão se dissipando, de forma firme, as nuvens da pandemia de Covid 19.  Mas, por outro lado, desde o começo de 2022, o mundo vive as incertezas e os problemas objetivos de suprimento de matérias primas energéticas e alimentares decorrentes da invasão da Ucrânia pela Rússia. Ao lado desta ameaça, vive-se a possibilidade de desaceleração econômica na China, da alta da inflação e dos juros nos países mais ricos do Mundo e a expectativa de inflação global.

No que diz respeito às questões exclusivamente internas, o Brasil precisa concluir reformas estruturantes não completadas pelo Governo Bolsonaro, como a administrativa e a tributária, manter o equilíbrio fiscal e estimular investimentos que gerem emprego e renda para a população. Afinal, embora o cenário relativo ao emprego venha tendo persistente melhora, os índices de desocupação ainda se encontram em patamares muito elevados no país e os juros estacionaram em níveis dos mais altos dos últimos 10 anos. Resta ainda equacionar-se a situação fiscal de 2023 já que as “bondades eleitorais” concedidas pelo Presidente Bolsonaro com a elevação do valor do auxílio Brasil para R$600,00, com a redução e eliminação de impostos para reduzir os preços dos combustíveis e a dominância do Orçamento Secreto na peça orçamentária na prática implodiram o Teto de Gastos. Ou seja:  não faltaram temas econômicos da maior relevância para o debate com os eleitores, mas foram “empurrados para debaixo do tapete” pelos candidatos.

Além dessa atitude desleal para com os cidadãos, outro comportamento inusitado dos candidatos em relação a economia durante a campanha foram as suas declarações impertinentes nas poucas vezes em que abordaram o tema. Lula, por exemplo, em meio ao deserto de suas manifestações sobre a economia investiu contra o teto de gastos, contra a autonomia do Banco Central e contra a reforma trabalhista promovida por Temer. Seus novos aliados do segundo turno, principalmente os tucanos, reprovaram suas ideias. Já do lado de Bolsonaro, Paulo Guedes se encarregou de fazer o “gol contra” ao anunciar um plano do governo para mudar a forma de reajuste do salário-mínimo e dos benefícios previdenciários. Se estivesse em vigor a fórmula pensada pelo ministro, o mínimo teria recebido este ano aumento entre 3,5% e 5%, correção inferior à que efetivamente houve de 10,16%. Portanto, quem cuidou de logo apagar o assunto foram os próprios governistas.

Mas o dia 1 de janeiro de 2023 vai inexoravelmente chegar e “quando chegar esse dia”, como cantou Chico Buarque de Holanda, precisa que existam respostas a tantas perguntas, ou vamos “pagar com juros” toda essa omissão.

Palavras-chave :

Economia, eLEIÇÕES, José Cursino Raposo Moreira.

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