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A ECONOMIA É UMA CIÊNCIA SOCIAL

A ECONOMIA É UMA CIÊNCIA SOCIAL

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

“O paradoxo brasileiro está exatamente na altíssima propensão a consumir dos ricos. A concentração de renda no Brasil não é para aumentar a taxa de poupança, é para aumentar o consumo dos de alta renda.” Celso Furtado (1920-2004).
Se os fundamentos da Economia estão corretos, por que os resultados não correspondem? Qual é o problema: estamos usando e/ou combinando mal a teoria existente ou precisamos de novas formulações? A propósito, lembro André Lara Resende e sua ‘nova macroeconomia’.

Quando se estuda a Teoria do Consumidor, o cerne da microeconomia, parte-se do pressuposto do comportamento racional, da psicologia em relação à oferta e demanda, para que se possa compreender certas conjunturas. Há também a questão do “ceteris paribus”, uma abstração que condiciona certas previsões. Economistas então premiados com o Nobel, defenderam a tese da influência da psicologia nas relações de mercado.

O Brasil ao longo do tempo tem experimentado as agruras de uma política cambial contraditória: quando do advento do Real, houve a ‘farra’ das importações àquela altura mais baratas para o nosso país. Fazia sentido, pois precisávamos atualizar tecnologicamente o nosso parque industrial, preparando-nos para uma eventual abertura comercial, e fortalecer o mercado interno; as exportações e o consumo doméstico passariam a crescer movidos pela modernização das indústrias e pela geração de emprego e renda.

Atualmente, a situação inverteu-se e beneficia as exportações, mas sem preço e termos de competição, e ainda perdemos a oportunidade de modernizar o nosso parque industrial.

A primeira desvalorização do Real visou restabelecer o equilíbrio comercial, facilitar as exportações e dificultar as importações. Foi a abertura feita ‘antes tarde do que nunca’; então invertemos a mão, mas as empresas não responderam suficientemente ao poder dos concorrentes de outros países. Se a balança comercial não gera dólares, recorre-se aos investimentos diretos e/ou aos empréstimos via aumento da dívida pública.

Os investimentos, agora, feitos por organizações transnacionais que se instalaram após o processo de privatização principalmente, exigem a contrapartida das importações, que pressionam o dólar. O processo de endividamento torna-se, assim, inexorável. E a conjuntura internacional recessiva, com alguns países desenvolvidos desacelerando sua economia, concorrem para agravar o drama vivido pelo Brasil.

Certo estava John Maynard Keynes, criador da macroeconomia, que sempre advogou a presença do Estado na economia, como mecanismo capaz de injetar recursos quando a iniciativa privada não conseguisse fazê-lo. Hoje, no Brasil, essa presença do Estado resume-se ao exercício de um poder regulador nem sempre eficiente.

Estão querendo privatizar tudo, desnacionalizar nosso patrimônio, mas continuamos devendo muito. Fizeram ainda contratos garantindo reajustes automáticos para os chamados ‘preços administrados’, por exemplo, que encarecem o custo de vida, mas não são computados nos índices oficiais de inflação. E, agora, com a crise cambial, os preços livres estão sendo contaminados numa generalização que torna evidente o recrudescimento de um processo inflacionário.

Estão praticamente esgotados os tradicionais instrumentos de política monetária, para conter a alta do dólar; além disso, já ‘queimamos’ boa parte das nossas reservas. A dívida pública ultrapassou os trilhões de reais, mais interna do que externa, a custos cada vez maiores e prazos de resgate cada vez menores. Como vamos sair desta? A saída? Onde está a saída?

Vamos torcer para que prevaleça a teoria microeconômica e que os agentes que fazem a economia, vencidas as etapas da crise, revertam as expectativas de quem tem comportamento racional e age psicologicamente diante dos mercados.

*Economista. Membro Honorário da ACL, ALL e AMCJSP.

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Antônio Augusto Ribeiro Brandão

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