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Economia: velhos problemas e soluções

Economia: velhos problemas e soluções

 

Dentre os inúmeros efeitos causados pela pandemia na economia, sem sombra de dúvida, aquele que não passou despercebido foi a inflação. A alta dos preços dos combustíveis, dos alimentos, da energia, do gás de cozinha, do vestuário e até dos enfeites de Natal foram vivenciados em todo o mundo, dado as devidas proporções e suas peculiaridades locais.

No Brasil, a alta dos preços é bastante desproporcional quando comparada com outros países da América Latina e emergentes similares, registrando, de acordo com o último relatório do FMI (World Economic Outlook), o segundo maior índice de preços do consumidor (10,06%) – perdendo apenas para a Venezuela, que não é um parâmetro válido, uma vez que ultrapassou os 2.700% em 2021.

As causas da inflação global são diversas e algumas comuns a grande parte dos países, como por exemplo: o choque da COVID-19 na oferta e nos estoques de mercadorias; os preços dos combustíveis derivados de petróleo e seus bens substitutos – resultado de estratégia política da OPEP; mudanças no fluxo de investidores internacionais e consequentemente das taxas de câmbio; a quebra no sistema logístico; o próprio processo de recuperação após a crise e os auxílios governamentais para fortalecer a demanda que vem se reestabelecendo acima da oferta; e, a crise energética – tanto via combustível, como do custo de energia elétrica e outras commodities energéticas como o Gás Natural e carvão.

Em se tratando do Brasil, além desses fenômenos, a perda de confiança no país foi fortalecida por políticas macroeconômicas e fiscais equivocadas resultando na fuga do investimento estrangeiro, desde 2019, desvalorizando nossa moeda muito acima da média de seus similares (6ª moeda que mais desvalorizou frente ao dólar em 2020 e atual 16ª em 2021) pois somaram-se aos impactos gerais causados pela crise da COVID-19 que elevaram ainda mais os riscos e a incerteza.

Desta forma, essa taxa de câmbio trouxe o país (que se diga de passagem, é extremamente dependente de insumos e bens intermediários), para um patamar extremamente elevado que se traduz na alta, por exemplo, dos custos de produção do setor agrícola que depende de fertilizantes e no tão gritante preço da gasolina – que no limite afetaram os preços de todas as mercadorias. Deve-se somar ainda aos impactos, a elevação dos custos com energia elétrica provocados pela insuficiência hídrica e dos custos elevados de importação de insumos da construção civil, aquisição de bens de capital e dentre outros.

Como medida de combate à inflação, o Governo Federal vem adotado a política de elevar as taxas de juros, estratégia que vem se mostrando ineficiente. A nulidade dos juros sob a inflação é resultado da origem da inflação brasileira. As taxas de juros são mecanismo útil para conter a inflação quando há um excesso de demanda provocado por uma economia superaquecida – o que não é o caso, uma vez que a economia caminha para recuperar-se da crise da COVID-19, como pode ser visto pela taxa desemprego extremamente elevada (13,2%) e o baixo crescimento real do PIB – constantemente revisado para baixo. Com uma inflação que deriva de custos e choques na oferta, a elevação das taxas de juros serve apenas para conter o ritmo de recuperação da economia, uma vez que é mais caro financiar investimentos e o consumo de bens duráveis, de capital e imobiliário.

Nesse sentido, vale observar o nível recorde no endividamento das famílias (72%) que cresceu devido às dificuldades resultantes da pandemia e que se tornam um mecanismo inviável com a elevação dos juros. Destaca-se também, o encarecimento do custo para rolagem da dívida pública através de títulos que se toram mais caros e dificultam a gestão fiscal no longo prazo e reduzem a disponibilidade de recursos discricionários do governo para realizar investimentos estruturantes e políticas públicas anticíclicas, pontuais e necessárias para recuperar o equilíbrio no mercado.

Dessa forma, a política nacional de elevação dos juros aumenta os custos e gastos no Brasil, fazendo com que se pague mais caro nas mercadorias devido à elevada inflação e mais caro com o repasse de custos para investimento ou para consumo que resultam da elevação dos juros, gerando assim um forte desestímulo para o crescimento econômico. A saída passa, sem dúvida, pela recuperação da credibilidade da gestão fiscal e econômica que impactará diretamente na vida em sociedade.

Por:

Marcello Apolônio Duailibe Barros
Economista (UFMA), Mestre em Administração Pública (FGV) e Vice-Presidente do CORECON-MA.

João Carlos Souza Marques
Economista, Mestre em Desenvolvimento Socioeconômico (UFMA) e presidente do CORECON-MA.

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