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A Eficácia das Sanções Econômicas

A Eficácia das Sanções Econômicas.  

Por: José Cursino Raposo Moreira-Economista.

Iniciadas as operações militares da Rússia para a invasão do território da Ucrânia, foi instantânea a determinação, por parte dos seus apoiadores, de um conjunto de sanções voltadas a paralisarem o funcionamento da economia russa. Assim, os Estados Unidos, os membros da OTAN e seus aliados determinaram o bloqueio das reservas internacionais dos russos, no montante de 600 bilhões de dólares, criando-lhes de imediato uma crise de pagamentos externos, o que compromete sua reputação internacional e gera desvalorização de sua moeda, aumento da inflação e das taxas de juros e, no final do processo, redução do crescimento econômico do país. Também os maiores bancos russos foram banidos do mercado americano, do europeu e do principal sistema de pagamentos internacionais, o Swift, integrado por 11.000 bancos, o que dificulta a realização de negócios, elevando riscos e custos.

Como consequência de tais medidas tomadas sob o patrocínio dos estados nacionais, as próprias empresas desses países estão recuando nas suas transações comerciais com a Rússia, temendo represálias por parte de seus governos, desse modo atingindo inclusive o comércio de petróleo ou de grãos, que não são objeto do boicote, e de muitas outras atividades, num efeito encadeado de problemas para a nação asiática, no curto, médio e longo prazos.  Tais medidas, “desplugaram a Rússia por intermédio de uma bomba atômica financeira e a tornaram pária instantaneamente” segundo o Presidente do Instituto Mises, Hélio Beltrão.    Isto então significa que logo, logo a Rússia vai retroceder da invasão ao seu país vizinho, sob o temor de colapso econômico total? Não, necessariamente, devendo a resposta a tal questionamento observar as especificidades do caso e do momento.

Diferentemente de Cuba, Venezuela, Coréia do Norte e Iran, que vivem há longo tempo sob sanções econômicas, a Rússia é uma potência nuclear, além de econômica e política, e nessa condição tanto pode resistir bem a tais medidas, como também invertê-las, em razão de certas circunstâncias geopolíticas. Por exemplo, Rússia e Ucrânia vendem 30 % do trigo e 20% do milho no mercado mundial. A Rússia é o maior exportador de fertilizantes e tem quase 8% do mercado exportador de petróleo. A asfixia financeira da Rússia pode dar em calote da sua dívida externa, situação por si só suficiente para causar problemas na economia mundial. Ou seja: conforme o economista Vinicius Torres Freire “os tiros da guerra contras Putin são em parte um bumerangue contra o Ocidente”.

O que parece, é que a maior ou menor eficácia das medidas do boicote econômico promovido para dissuadir a Rússia de anexar a Ucrânia aos seus domínios vai depender da duração do conflito militar entre os dois países. Quanto mais se prolongarem os combates, a tendência é de as sanções aumentarem seus efeitos danosos para a Rússia, pois a crise de liquidez de sua economia pode levar ao esgotamento das suas reservas que escaparam ao “sequestro” dos ocidentais. Daí a pressa de Putin em se fortalecer com uma vitória militar para negociar em melhores condições tanto as compensações a Ucrânia, do ponto de vista de sua reconstrução, quanto a suspensão das medidas contra sua economia, promovidas pelos Estados Unidos e seus aliados.

Mas vale ressaltar que este caso evidencia a influência e as potencialidades da contemporânea configuração da Economia Globalizada, significando que doravante as guerras entre os países podem se travar sem sequer um disparo de armas de fogo ou do uso da aviação ou marinha, tudo substituído pelo emprego dos contemporâneos mecanismos da economia digital dos nossos dias. Enquanto isso não acontece, as consequências de mais uma guerra no mundo vão adiando para mais distante a superação dos efeitos da Covid 19 sobre todos os países.

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