2022: O ano da Microeconomia?
É mais ou menos aceita sem muitas polêmicas entre os economistas (situação mais ou menos rara) a divisão de sua ciência em dois grandes blocos com objetos distintos, embora com fortes conexões e complementariedades entre si, denominados Macroeconomia e Microeconomia. A Macroeconomia é o campo de estudo e de atuação pertinente aos chamados AGREGADOS ECONÔMICOS, tipo o PIB, o Consumo das famílias e do governo, o investimento, a poupança, o mercado de trabalho etc, enquanto a Microeconomia foca suas lentes para temas mais particulares, como os preços, a produção, a natureza dos mercados e da concorrência entre as empresas etc.
Também é no âmbito da Macroeconomia que as políticas econômicas ocorrem, como as políticas fiscal, monetária e cambial, pelas suas repercussões e condicionamentos impostos sobre todas as atividades e agentes econômicos de qualquer país. Uma política fiscal mais favorável a expansão do gasto público, ou não, assim afetando mais ou menos o endividamento do setor governamental e a dinâmica das taxas de juros, vai influenciar as decisões do conjunto de empreendedores nacionais, pois sofrerão de “fora para dentro” as consequências do que acontece nessa área. O mesmo se dá com a política monetária ou cambial, sendo a taxa de juros e a de câmbio “preços” básicos da economia, ou seja, forças que vão influenciar sobre as decisões de praticamente todos os agentes, mesmo aqueles mais modestos e que nem se dão conta do funcionamento deste mecanismo.
Há uma certa convergência entre variados segmentos da opinião econômica do país e os operadores de mercado que o ano de 2022 será de instabilidades e de desequilíbrios na política macroeconômica, com tendência a ocorrer déficit primário ao final do ano, no campo fiscal, subida da taxa de juros para a casa de dois dígitos, já alcançados desde a última reunião do Comitê de Política Monetária-COPOM- , no âmbito monetário, e uma elevada desvalorização do Real perante as demais moedas mundiais, no que diz respeito ao ambiente cambial. Isto significa que pouco se tem a esperar das políticas macroeconômicas em 2022, ano ainda onerado pela realização de eleições gerais no país, que já causaram a edição da conhecida PEC DOS PRECATÓRIOS e o aumento do Bolsa Família, rebatizado de AUXÍLIO BRASIL, novas fontes de pressão sobre as políticas fiscal e monetária.
Esta percepção se alinha aos prognósticos de um crescimento econômico medíocre em 2022, com taxa de variação do PIB em torno de menos da metade da de 2021, e de taxa de inflação superior ao teto da meta para o ano, embora menor que o índice atingido em 2021.
Contudo, de forma mais ou menos silenciosa e com pouca visibilidade, situação não compatível com sua importância, vem evoluindo nos últimos anos um importante programa de privatizações de empresas estatais, de venda de participações acionárias do governo em várias companhias de diversos segmentos, de concessões e permissões em variados campos da infraestrutura. Assim, estão passando para a inciativa privada a operação de portos, aeroportos, rodovias, sistemas de abastecimento de água e de tratamento de esgotos urbanos etc. Mobilizando vultuosas somas de recursos, tanto de imediato quanto a curto e médio prazos, estas inciciativas podem representar uma espécie de compensação, ao nível microeconômico, ao fracasso previsto nas políticas macroeconômicas. Pode-se esperar como efeito destes fatos, importantes transformações nos setores de transporte, logística e saneamento do país, com impactos positivos na produtividade sistêmica da economia. Contudo, este processo virtuoso que pode beneficiar a economia como um todo sofre a ameaça de interrupção ou mesmo paralisação, caso as condições macroeconômicas desfavoráveis do momento não se revertam logo. Desse modo, por outro lado, provando que macro e microeconomia são as duas faces de uma só moeda.
Por:
José Cursino Raposo Moreira – Economista
moreiracursino@gmail.com